segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

CRISE ECONÔMICA: A verdadeira causa.

No presente texto serão desenvolvidas idéias muito mias de um outro personagem do que propriamente minhas, trata-se de uma síntese, a partir da minha compreensão, da aula inaugural da Faculdade São Bento da Bahia 2009, proferida pelo Dr. Rubens Ricúpero, dentre outros cargos e títulos ele é: Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, Ex-ministro da presidência por duas vezes, da Economia e do Meio Ambiente; foi sub-secretario geral e atualmente e consultor da ONU. O tema desenvolvido: O governo Obama e a Crise Internacional.

A primeira reflexão é a de que por traz de tudo que acontece em política e economia encontramos valores. A adesão a determinados valores ou o desprezo a eles definem o rumo destas duas realidades. Tentou-se, portanto, buscar uma compreensão de quais valores estão por traz desta economia em crise.

O doutor tentou seguir a seguinte lógica, falou do fenômeno Norte Americano com o novo governo; qual a conseqüência da crise nos problemas concretos como relações internacionais, mudanças climáticas, comércio internacional; enfim como isso pode nos afetar e como podemos ser parte da solução.

O que tem haver Obama com a crise internacional? Ora, a crise começou nos EUA e não terá fim enquanto o país não tiver uma economia estável, pois os EUA continua sendo, apesar de menos forte do que a tempos atrás, a maior potencia mundial e ainda deve continuar por muito tempo. O motivo não é simplesmente por ele ter a maior economia, melhor força militar, melhor desenvolvimento tecnológico, isso só não bastaria.

Hoje são os “sem números” que definem, são jogos diferentes e jogadores diferentes. O Ex-ministro usa a expressão tabuleiros. Os EUA são os únicos decisivos em todos os tabuleiros: cultura, economia, indústria... eles tem uma grande capacidade de criar símbolos e valores. Por isso são líderes, por isso tem tanto poder concentrado. Porém, não é único e depende de outros poderes, de outros países.

O presidente Buch seguiu uma linha do unilateralismo, achava-se a única potência, capaz de resolver tudo sozinho, foi o seu maior erro. Obama já em seu discurso de posse falou de humildade, saudou a todos os americanos com e sem religião, coisa nunca vista antes. O atual presidente traz algumas características que valem apenas serem olhadas: Foi um brilhante aluno de direito, poderia ter se dedicado a profissão e tornado-se talvez um grande milionário, mas decidiu, ao invés de ganhar dinheiro, o social por vocação; tem experiência com a diversidade, pai africano, padrasto mulçumano, mãe intelectual e professora universitária; cresceu com uma presença muito forte da avó e nos Estados Unidos. Torna-se presidente ainda jovem, com uma virada histórica,, onde pouco tempo antes a própria lei “os condenava” agora um negro é o governador maior do país.

No que refere-se a crise os economistas demonstram na imprensa tecnicamente, e muito bem, como a crise veio a tona. Criou-se hipotecas de risco, bolhas de valorização: uma bolha seria papeis de imóveis e bens que se supervalorizam, acumula-se valores encima de valores, vão sendo vendidos e revendidos na lógica especulativa, é na verdade um valor inexistente. Ora, as bolhas estouraram, os pacotes foram caloteados, atingiu-se diretamente grandes bancos e investidores americanos, que por sua vez, já tinham vendas para a Europa, deste modo, a crise se generalizou, todos foram afetados.

Mas esse tipo de mercado financeiro foi favorecido pelos próprios governos a partir dos anos 80 seu crescimento foi de uma velocidade absurda. Junto a esse crescimento cerce também a desigualdade. Para se ter uma idéia, nos anos 70 um alto executivo ganhava 40 vezes mais que o ganho médio, hoje chega a mais de 370 vezes. Portanto, a raiz social desta crise foi a desigualdade.

Os EUA deixaram de poupar, enquanto isso países asiáticos tornaram-se grandes poupadores; China, por exemplo, poupa até 50% de seus lucros e financia os EUA, que como um “buraco negro” engole tudo produzido no mundo. Foi preciso gerar “bolhas” para continuar a crescer. A criação e manejo das “bolhas” era a própria condição do sistema financeiro. Isso não poderia continuar em um dado momento estas bolhas começaram estourar. O setor financeiro que deveria ser um meio para um fim, tornou-se um fim em si próprio.

O problema agora é: o que se vai colocar no lugar dessas bolhas, não basta sair da crise, ninguém sabe até onde ela vai, mas deve ter um fim. O problema é como terminará essa crise? Voltaremos ao modelo de antes ou com alguma coisa nova? O ideal seria sair da crise construindo um pacto social. O setor financeiro não deve ser um fim em si próprio. O pacto da economia social deve ser fundado em valores e não unicamente no enriquecimento, isso exige naturalmente uma mudança também na política internacional.

Se há um grande desafio na atualidade, é o aquecimento global. Essa é a mãe das ameaças. Buch nunca aceitou essa realidade, Obama já reconhece essa ameaça ambiental.

Nesse particular o Brasil pode ganhar muito. Somos potência ambiental: maior floresta tropical, maior boi-diversidade, mais rico em água potável, usamos o bio-combustível de forma consistente. Por isso o Brasil tem muito a contribuir, não precisamos ser a nação mais rica economicamente, devemos ser uma potência em valores, uma força de vida digna. A vida vivida segundo o bem, segundo os grandes valores: a justiça, o belo, a solidariedade, a humildade, a fraternidade, a amizade e assim tantos valores defendidos e estudados pelos primeiros filósofos por exemplo. Os EUA optaram por uma política ante-valores: cobiça, ambição, competição, egoísmo... Isso, sedo ou tarde, só poderá levar ao caos.

Por fim, diante deste assunto que apesar de ter tanto impacto na vida de todos, parece tão distante e fora do nosso cotidiano, chegamos a perguntar: e nós o que podemos fazer diante disso? Eu diria, temos muito a fazer! Sendo justo nas pequenas coisas, fazendo bem o que nos compete, cultivando honestidade e tantos valores poucos visíveis na sociedade atual e até diria para os que tem fé vamos rezar e aos que não tem sejam homens e mulheres de boa vontade.

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