segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

SAÚDE E RELIGIÃO

Como está a sua Saúde?

Mais uma vez a Igreja católica empenha-se em refletir, aprofundar e agir ante a uma realidade social. A cada tempo quaresmal somos compelidos a uma situação bem específica e concreta. Neste ano de 2012 o tema em questão é a saúde pública.

Geralmente só nos damos conta da suma importância da saúde quando nos encontramos ou estamos com alguém muito próximo doente. Confesso! Quando ouvi o tema da Campanha da Fraternidade desse ano sobre Saúde Pública, imaginei: mas o que eu tenho haver com isso?  Não sou um “doente” muito menos um “político”. Depois lembrei-me de meus pais e alguns irmãos e até eu mesmo, carregamos algumas doenças: pressão alta, pressão  baixa, colesterol, artrose, coluna, enxaqueca, artrite... Dei-me conta que teria e muitos motivos de preocupação. Porém, Logo depois idealizei: Um bom plano de saúde resolve todos os problemas. Que pensamento pequeno esse: individualista, egocêntrico, incapaz de ver a saúde em um sentido mais amplo.

Através do estudo, reflexão e palestras percebi que a saúde pública refere-se e muito a minha vida e a vida de todos nós. Ela está intimamente ligada ao bem viver e não somente as doenças. O bem viver e a vida saudável, por sua vez, estão ligados muito mais a medicina preventiva do que curativa. De modo que, todos, saudáveis ou não saudáveis, estão, queiram ou não sendo responsáveis pela dimensão da saúde em nossa sociedade.

Mas o que entendemos mesmo por saúde? Para a OMS, saúde é “um estado de completo bem estar físico, mental e social, e a ausência de doenças. Para ter saúde precisa-se, portanto, de ambientes favoráveis nos âmbitos ecológico, social, alimentar, mental e espiritual.

O bem viver, portanto, requer de nós ações concretas, ações de solidariedade, de ajuda mútua. De modo concreto, como Igreja, devemos desenvolver um serviço aos enfermos assistindo e integrando os mesmos na comunidade, a Pastoral da Saúde também pode desenvolver belas ações neste sentido. Deve-se valorizar o nosso Sistema Único de Saúde - SUS, ele precisa ser fortalecido e justo, para isso implica um acompanhamento por parte da comunidade ante a gestão pública, gestão esta que geralmente é um verdadeiro caos.

No entanto, a realidade da saúde está virando mercadoria. Um verdadeiro mercado “sem coração”. Os que ganham com a saúde particular ou privatizada, querem de todo modo que o sistema público de saúde seja o pior possível, com a saúde pública precária a mais pessoas vão aderindo às redes particulares.

Parece estarmos assim, encurralados. Morre-se, mata-se, adoece-se de uma forma nunca vista antes. Para se ter uma idéia, só de vítimas da poluição do ar morrem cerca de dois milhões de pessoas a cada ano, segundo a Organização Mundial da Saúde. Imagine quantos morrem de câncer, e acidentes, doenças cardíacas, contaminados com drogas, com agrotóxicos e tantas outras químicas.

Torna-se evidente a íntima ligação entre saúde, meio ambiente e economia. Por dinheiro transforma-se a saúde em mercadoria, por dinheiro se destrói o meio ambiente, por dinheiro pratica-se a injustiça e a corrupção, por dinheiro o homem está se autodestruindo. Nos tornamos, mais do que nunca, uma sociedade escrava do dinheiro. Esta escravidão destruidora apresenta-se muito forte através das doenças físicas, psíquicas e mesmo espirituais.

Por estas e outras razões a Igreja conclama a nós seus seguidores de Cristo a refletir e agir na busca da utopia de inversão desta realidade tão cruel e demoníaca. Pois o Cristo veio para que todos tenham vida e a tenham em abundância (Jo 10,10). Deus nos convida a ser mais. Porém o sistema parece já nos ter conquistado. Não conseguimos, por exemplo, pararmos de ser consumistas, mas, pelo contrário, aderimos as estratégias de comércio e de lucros das empresas e assim destruímos o ambiente da vida e a própria saúde.

Infelizmente, para minha ou nossa tristeza, ao abordarmos estes assuntos, parece não se ter mais esperança: é mais comum ouvir: não adianta, não tem mais jeito, nada vai mudar, do que: vamos lá, é possível melhorar e mudar. Parece sempre impossível enfrentar os interesses do capital, dos descasos para com a saúde e tantas outras realidades gritantes dos nossos dias.

Portanto, eis a questão, o desafio e o convite a fazermos algo. A fazer com “que a saúde se difunda sobre a terra” (Eclo 38,8). Nenhum cristão pode furtar-se à prática do amor, isto é, a vivência concreta da solidariedade para com os mais sofridos e necessitados. 

Fica-nos uma pergunta: que tipo de ação a comunidade cristã pode realizar junto aos que se encontram com a saúde fragilizada ou mesmo para que nos conservemos saudáveis? Se você acha que não pode fazer nada, desculpe-me, mas você já é um doente!

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

HOMILIA DA QUARTA FEIRA DE CINZAS


Irmãos e Irmãs, começa um novo tempo na Igreja, tempo em que você também pode tornar-se novo, ou simplesmente permanecer como está. A quaresma como bem nos introduz a liturgia de hoje, é um período para ouvir mais a Palavra de Deus e entregar-se à oração, jejum e esmola, a razão desta atitude é a preparação para a Páscoa.

São quarenta dias nos quais somos conduzidos e conduzidas, a uma conversão mais profunda, no intuito de juntamente com o Cristo Ressuscitado na Páscoa, possamos também nós ressurgir com Ele, como homens novos e mulheres novas. Vive-se, portanto, uma espiritualidade própria, um caminho que nos ajuda a nos reaproximarmos de Deus e de fato mudamos de vida.

A oração, o jejum e a esmola integram esse tempo penitencial. Não se trata apenas de um gesto externo como nos chama a atenção a Palavra de Deus hoje. A leitura da profecia de Joel nos diz “rasgai o coração e não as vestes; e voltai para o Senhor” (Jl 2,13). São Paulo suplica em nome de Deus: “deixai-vos reconciliar com Deus” (2Cor 5, 20b). Jesus Cristo no Evangelho nos conclama a uma oração, esmola e jejum profundo e verdadeiro e não apenas por aparência e obrigação, com gestos muitas vezes hipócritas.
Mas será que sabemos de fato o que significa estes gestos e atitudes?

Na casa de meus pais aprendi a jejuar desde cedo: a partir dos quatorze anos era obrigatório jejuar, Quarta-feira de Cinzas e Sexta-feira Santa. Sou grato por ter aprendido isso em casa. No entanto, jejuar forçado terá algum sentido? Alguém pode dizer: “eu jejum só porque a Igreja manda”. Certamente não compreende o verdadeiro significado do jejum.

Vamos tentar entender melhor:

O Jejum não é simplesmente uma dieta. Ele nos ajuda a exercitar a capacidade de autodomínio, para servirmos mais livremente a Deus e ao próximo, isto é, minha vontade é esta, mas abro mão dela por algo maior; ajuda a “quebrar o nosso orgulho”, ou seja, livremente eu deixo de fazer o que meus instintos e vontade pedem, num gesto de profunda humildade; gesto profético de solidariedade com aqueles que são forçados a jejuar todos os dias.
A esmola é muito mais um gesto livre de partilha e gratuidade. Do que eu tenho posso dividir sem pensar em ter nada em troca.
A Oração não é multiplicar palavras ou fórmulas. Você pode passar horas e horas “rezando” e na verdade não ter “rezado” quase nada. A oração é um dom de Deus; uma aliança com Deus; é a relação entre Deus e o homem, quanto mais você estiver em uma relação sublime com Deus, mais será uma pessoa orante.
Podemos neste instante nos perguntar: Como queremos viver esse tempo quaresmal que se inicia hoje? Que caminhos, atitudes e mudanças eu preciso tomar para minha vida?  Concretamente só você pode saber, a escolha é sua: ser uma pessoa nova, ressurgir com o Cristo, ou continuar na mesmice de sempre. A Igreja, a liturgia, propõe toda uma espiritualidade própria do tempo, inclusive com incentivo à procura do sacramento da penitência.

Temos ainda o privilégio e a oportunidade de refletirmos e agirmos diante de um tema social bem concreto. Este ano a Campanha da Fraternidade nos propõe refletir sobre a saúde pública. Como homens e mulheres novas o que podemos fazer ante a situação tão gritante da saúde pública? Será que podemos escolher um bom plano de saúde e achar que o problema é só dos outros?

A saúde pública também se refere à vida saudável, ao bem viver. Neste sentido, como Cristãos temos muito a fazer. Portanto, Aos meus paroquianos, convido-vos a pensarmos juntos nossos gestos concretos neste tempo propício suscitado pela quaresma. Aos de outros lugares, incentivo-vos a empenhar-se na vossa Paróquia e comunidade.

Por fim, lembremos! Estamos em um tempo de graça! Busquemos nossa conversão pessoal, mas façamos com que essa mesma conversão transborde além de nós e gere saúde, solidariedade, vida nova, relações sadias... em nossas famílias e comunidades.

Assim Seja!