Como está a sua Saúde?
Mais uma vez a Igreja católica
empenha-se em refletir, aprofundar e agir ante a uma realidade social. A cada
tempo quaresmal somos compelidos a uma situação bem específica e concreta.
Neste ano de 2012 o tema em questão é a saúde
pública.
Geralmente só nos damos conta
da suma importância da saúde quando nos encontramos ou estamos com alguém muito
próximo doente. Confesso! Quando ouvi o tema da Campanha da Fraternidade desse
ano sobre Saúde Pública, imaginei: mas o que eu tenho haver com isso? Não sou um “doente” muito menos um “político”.
Depois lembrei-me de meus pais e alguns irmãos e até eu mesmo, carregamos
algumas doenças: pressão alta, pressão baixa, colesterol, artrose, coluna, enxaqueca,
artrite... Dei-me conta que teria e muitos motivos de preocupação. Porém, Logo
depois idealizei: Um bom plano de saúde resolve todos os problemas. Que
pensamento pequeno esse: individualista, egocêntrico, incapaz de ver a saúde em
um sentido mais amplo.
Através do estudo, reflexão e palestras
percebi que a saúde pública refere-se e muito a minha vida e a vida de todos
nós. Ela está intimamente ligada ao bem viver e não somente as doenças. O bem
viver e a vida saudável, por sua vez, estão ligados muito mais a medicina
preventiva do que curativa. De modo que, todos, saudáveis ou não saudáveis,
estão, queiram ou não sendo responsáveis pela dimensão da saúde em nossa
sociedade.
Mas o que entendemos mesmo por
saúde? Para a OMS, saúde é “um estado de completo bem estar físico, mental e
social, e a ausência de doenças. Para ter saúde precisa-se, portanto, de
ambientes favoráveis nos âmbitos ecológico, social, alimentar, mental e
espiritual.
O bem viver, portanto, requer
de nós ações concretas, ações de solidariedade, de ajuda mútua. De modo
concreto, como Igreja, devemos desenvolver um serviço aos enfermos assistindo e
integrando os mesmos na comunidade, a Pastoral da Saúde também pode desenvolver
belas ações neste sentido. Deve-se valorizar o nosso Sistema Único de Saúde -
SUS, ele precisa ser fortalecido e justo, para isso implica um acompanhamento
por parte da comunidade ante a gestão pública, gestão esta que geralmente é um
verdadeiro caos.
No entanto, a realidade da
saúde está virando mercadoria. Um verdadeiro mercado “sem coração”. Os que
ganham com a saúde particular ou privatizada, querem de todo modo que o sistema
público de saúde seja o pior possível, com a saúde pública precária a mais
pessoas vão aderindo às redes particulares.
Parece estarmos assim, encurralados.
Morre-se, mata-se, adoece-se de uma forma nunca vista antes. Para se ter uma
idéia, só de vítimas da poluição do ar morrem cerca de dois milhões de pessoas
a cada ano, segundo a Organização Mundial da Saúde. Imagine quantos morrem de
câncer, e acidentes, doenças cardíacas, contaminados com drogas, com
agrotóxicos e tantas outras químicas.
Torna-se evidente a íntima
ligação entre saúde, meio ambiente e economia. Por dinheiro transforma-se a
saúde em mercadoria, por dinheiro se destrói o meio ambiente, por dinheiro pratica-se
a injustiça e a corrupção, por dinheiro o homem está se autodestruindo. Nos
tornamos, mais do que nunca, uma sociedade escrava do dinheiro. Esta escravidão
destruidora apresenta-se muito forte através das doenças físicas, psíquicas e
mesmo espirituais.
Por estas e outras razões a
Igreja conclama a nós seus seguidores de Cristo a refletir e agir na busca da
utopia de inversão desta realidade tão cruel e demoníaca. Pois o Cristo veio
para que todos tenham vida e a tenham em abundância (Jo 10,10). Deus nos
convida a ser mais. Porém o sistema parece já nos ter conquistado. Não
conseguimos, por exemplo, pararmos de ser consumistas, mas, pelo contrário,
aderimos as estratégias de comércio e de lucros das empresas e assim destruímos
o ambiente da vida e a própria saúde.
Infelizmente, para minha ou
nossa tristeza, ao abordarmos estes assuntos, parece não se ter mais esperança:
é mais comum ouvir: não adianta, não tem
mais jeito, nada vai mudar, do que:
vamos lá, é possível melhorar e mudar. Parece sempre impossível enfrentar
os interesses do capital, dos descasos para com a saúde e tantas outras
realidades gritantes dos nossos dias.
Portanto,
eis a questão, o desafio e o convite a fazermos algo. A fazer com “que a saúde
se difunda sobre a terra” (Eclo 38,8). Nenhum cristão pode furtar-se à prática
do amor, isto é, a vivência concreta da solidariedade para com os mais sofridos
e necessitados.
Fica-nos uma pergunta: que
tipo de ação a comunidade cristã pode realizar junto aos que se encontram com a
saúde fragilizada ou mesmo para que nos conservemos saudáveis? Se você acha
que não pode fazer nada, desculpe-me, mas você já é um doente!