quarta-feira, 26 de novembro de 2008

DEUS, RAZÃO E HOMEM

Será possível identificar qual dimensão o homem desenvolve por primeiro: a divina ou a racional? Não trago aqui uma reflexão pronta e acabada, mas será válida para um repensar, opinar e até mesmo opor-se a respeito do escrito.

Darwin na sua teoria da evolução não nos explica a evolução espiritual do Homo Sapiens, fica apenas na dimensão físico-psíquica do homem: o cérebro humano desenvolve-se mais que o cérebro dos outros animais, resultando no decorrer de milhares de anos no que somos hoje. Quando os primeiros homens conseguiram pensar o físico eles também pensavam o divino, o metafísico?

Sabemos que desde os tempos remotos as comunidades humanas viviam e explicavam tudo em sua volta segundo a vontade dos deuses, era o mundo em volta da mitologia, era uma criatividade racional tentando desvendar e fazer o homem, entender o mistério. Os escritos de Homero, por exemplo, nos confirmam isso. Podemos concluir, portanto, que as primeiras civilizações humanas possuíam fortemente a dimensão divina. Se olharmos biblicamente o homem surge numa ação correlacional: Deus e homem. Dentro desta visão o homem racional é intrinsecamente ligado ao homem divino. Não existe homem sem razão nem homem sem Deus; até quando esse mesmo homem tenta negá-lo.

A Razão Evolui, a Concepção de Deus Também.
Como vimos, as primeiras explicações, os primeiros conhecimentos humanos eram simbólicos, alegóricos, mitológicos. Toda existência, todos os acontecimentos eram atribuídos aos deuses. Uma forma de o homem explicar aquilo que apresentava-se como mistério. Desvendar o mistério nos gera interesse, porque o homem não só deseja conhecer, como necessita desse conhecimento. Dar uma resposta, o porquê das coisas. De tal modo, se é próprio do ser humano querer e necessitar do conhecimento, fica mais do que claro que a razão não nasce com o surgimento da filosofia ou com o surgimento da ciência, nasce com o Homo Sapiens. Ou dizendo ainda de um modo bíblico, com Adão e Eva.

O conhecimento humano é essencialmente interpretativo, na tentativa de explicar e desvendar o mistério, o qual, não tem uma resposta unívoca, segura. O mistério no qual estamos mergulhados nos dá sinais, o homem interpreta estes sinais. O que muda é só a modalidade explicativa, a finalidade é a mesma: a hermenêutica, a interpretação. Por mais que se busque conhecer, a existência humana continua mergulhada num mistério. Quanto mais a ciência evolui, mais profundamente mergulhados no mistério estamos.

O grande salto
Lembro nesta ocasião, da possível explanação um pouco simplista, mas gastaria muito tempo, para fazer aqui um texto com toda a riqueza e densidade dos elementos filosóficos dos autores e temas a que vou me referi.
É Tales de Mileto (623-546),o primeiro a construir uma explicação sobre a existência das coisas, o arqué (origem primeira) das coisas, sem recorrer aos deuses. Ele conclui que o princípio de tudo é a água. Observa que em tudo tem umidade, até o calor gera-se do úmido, como a água é o princípio da natureza das coisas úmidas, não há dúvida é gerado a partir da água. Fala-se que muito bem antes dele outras gerações teriam tido a mesma concepção, porém, atribuíram aos deuses Oceano e Tetis como autores da geração das coisas. É essa conclusão de Tales, que o torna o primeiro filósofo. É com ele que nasce a filosofia, foi o primeiro a formular expressa e sistematicamente a pergunta: “qual é a causa ultima, o princípio supremo de todas de todas as coisas?” Por volta do ano 620 aC.; veja o grande passo deste pensador: faz a junção dos fatos e com suas observações intui um novo pensamento. Isso o torna filósofo; ele introduz uma nova forma de racionalidade: a racionalidade filosófica. O pensador parte da hipótese de que deve haver algo de onde tudo vem e para onde tudo vai. Conclui, tudo vem do úmido e tudo volta para o úmido, logo, a água é a “Mãe” de tudo que existe.

Depois de Tales surgem vários outros pensadores tentando explicar o arqué das coisas. Vejamos alguns deles:

Para Anaximandro o responsável pela origem de tudo é algo que ele o denomina de Ápeiron, seria um elemento físico, mas ao mesmo tempo indefinido, indeterminado, ilimitado. Tudo vem dele e tudo volta para ele.

Xenófanes diante da grandiosidade do mistério faz seus questionamentos aos que ousavam explicar. Não há, nem haverá jamais homem algum capaz de alcançar a verdade ultima sobre as ciosas e sobre Deus. Sobre todas as coisas não há senão opinião. Ele é claramente monoteísta: “um só Deus, sumo entre os deuses e os homens, nem por figura nem por pensamento semelhante aos homens”. (Fr. 23)

Parmênides nos fala do Ser, ele demonstra a dimensão paradoxal da nossa linguagem. Nós criamos nossas definições, porém não é nada disso. Para ele: tudo é. O ser é. O ser não pode deixar de ser. Podemos concluir de uma forma bem simples, dentro deste pensamento de Parmênides: Deus é. É o máximo e a melhor definição.

Heráclito por sua vez, parece se contrapor ao pensamento de Parmênides. Referindo-se a Deus ele diz: “O Deus é dia noite, inverno verão, guerra paz, saciedade fome; mas se alterna como fogo, quando se mistura a incensos, e se denomina segundo o gosto de cada” (Fr. 67). Como se vê, Heráclito diz que tudo está fundamentado na dinâmica, na mudança, é nessa mudança constante pela qual tudo existe, é ai que está a base da existência. Não é uma base múltipla, um Deus diverso, é uma unidade, porém dinâmica.

Surge, por conseguinte, os Sofistas, aproveitando-se dos belos pensamentos e conclusões, porém às vezes antagônicos, eles tentam dar a solução. Dizem: todos esses filósofos têm razão e ao mesmo tempo nenhum deles tem razão. Somos nós que criamos a verdade. É melhor dizer todas as coisas são verdades. Ela não existe, é apenas construção cultural e convencional nossa. Deste modo, eles resolviam “tudo”. Quem convencesse melhor estava com a verdade. Como vemos, ai está um relativismo total. Eles são os primeiros filósofos totalmente ateus. Se é que podemos chamar de filósofos.

É Protágoras, filósofo sofista, que cria a famosa frase: “O homem é a medida de todas as coisas”. É dessa forma de pensar tão antiga que nasce a ditadura do relativismo tão presente na sociedade de hoje. Todavia, os Sofistas não foram muito longe, surge posteriormente três grandes mentes e põe por terra o sofismo sistematizando um conhecimento altamente filosófico, o qual, marcou decisivamente a civilização ocidental. Estamos falando de: Sócrates, Platão e Aristóteles.

Os três pensadores nem só desmascararam os sofistas como construíram toda uma gama de conhecimentos. Depois deles foi difícil pensar e descobrir algo que os mesmos já não tivessem pensado.

Sócrates – tem uma posição muito clara: “A verdade não se inventa, a verdade se encontra. Ela já existe”. Ainda reforça: “A maioria pode decidir o que quiser eu obedecerei ao Deus”. Para Sócrates estava claro que existia uma verdade, e era Deus. As convicções dele tinham força não simplesmente por afirmar algo, mas por debater com quaisquer outros que se diziam sábios e colocá-los em contradição, deixá-los sem respostas, assim, Sócrates foi tornando-se conhecido como o maior sábio, se bem que ele não se reconhecia deste modo. Dizia ele: os outros não sabem tudo e acham que sabe. Eu não sei e sei que não sei. Desta maneira, ele sempre buscava conhecer mais, os outros já achavam-se muito sábios, por isso tornavam-se ignorantes, enquanto Sócrates carregava sempre seu mais famoso pensamento consigo: “Só sei que nada sei”.

Platão sendo discípulo de Sócrates é quem torna seu mestre conhecido, pois o mesmo não deixou nada escrito. Platão por sua vez é autor de um dos 100 livros que mais influenciou a humanidade: A República. Escrita há tanto tempo, ainda hoje carrega grandes verdades; muitos dos grandes cientistas políticos da modernidade ainda sistematizam modos de governos sem fugir às regras platônicas. Referindo-se a Deus, Platão o denomina de: o Bem, um bem supremo do qual tudo deriva, inclusive todos os seus escritos filosóficos.

Aristóteles discípulo de Platão, é quem aperfeiçoa e complementa o seu mestre, todavia, essas três personalidades construíram a base do conhecimento e da cultura ocidental. Quando analisou a existência das coisas, Aristóteles fala do Motor Imóvel, antes de tudo existir, já existia algo eterno, imóvel imutável, porém com características de motor, que move sem ser movido, uma força sai dele e gera o movimento da vida, tudo começa do motor, dele sai o impulso primeiro para a vida, depois esse impulso se multiplica e a própria natureza dinamiza e multiplica esta força. Na sua metafísica ele vai mais profundo ainda e fala do: “Ser Primeiro” – eterno, sensível, amável, infinito... Ser do qual existe necessariamente e tudo vem dele, tudo depende dele e tudo volta para ele.

Deus é Imutável
Mais do que uma análise filosófica e histórica ou até uma ascensão do nosso raciocínio. O caminho percorrido até aqui almeja nos levar a uma certeza. O homem sempre pensou. Quanto a isso não temos dúvida, o homem sempre buscou explicações para o que estar e acontece ao seu redor. E sempre conseguiu fazer isto. Entretanto, na existência tem algo misterioso, e esse, por mais que se explique não deixa de ser mistério. Está sempre aberto a novas tentativas de esclarecimentos. Se analisarmos cada formulação, cada conclusão é muito evidente que o pensar humano, a inquietação humana tende a parar em um limite inacessível, por mais que continue buscando, a resposta é sempre a mesma. Os filósofos gregos com essa tentativa acabaram saindo da crença politeísta e mitológica para um monoteísmo filosófico, os pensadores gregos acabaram remontando a algo com características divinas para construir suas bases explicativas.

Dando um salto para o racionalismo científico atual, não é muito diferente, os maiores estudos da NASA, da física moderna... trazem surpresas ainda maiores que no passado: o mundo é tão complexo, tão belo, tão indescritível que escapa ao nosso pobre conhecimento. O mistério continua. Diante de uma postura de fé é muito claro: Deus jamais será entendido em sua plenitude, em sua totalidade. E o que é a existência, senão a manifestação de Deus? Ele será sempre o mesmo, e nós na nossa pequenez racional elaboraremos sempre explicações incompletas, imperfeita; aquilo que dizemos ser Deus, não o é. Não obstante, são explicações, acessível e compreensível a partir de uma atitude de fé, e, não uma fé ingênua, mas rica em conteúdo e significados; atitude que gera em nós uma confiança, uma força e uma harmonia impulsionando-nos a viver vigorosamente e com muitos momentos de felicidade. A atitude de fé dar um maior sentido as coisas. Esse é o homem racional, aquele que dá o porquê das coisas. A depressão, doença tão presente na sociedade de hoje, um dos principais motivos ou sintomas, é justamente a incapacidade de dar um sentido à própria vida.

Finalmente, seja você uma pessoa de fé ou não, você também é parte da majestosa existência, você pensa, você existe, e mesmo que não pensasse também existiria. É impossível alguém viver sem acreditar em nada ou acreditando em tudo. Eu prefiro acreditar neste Ser Maior, vou mais longe ainda, acredito no Deus Cristão, pessoal, Uno e Trino; prefiro acreditar que ele me ama, assim minha vida tem muito mais sentido e sinto-me feliz.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Análise da crítica à religião dos séculos XIX–XX


A critica a religião destes séculos, não nasce do acaso, é inegável que toda essa crítica tem como base, uma série de transformações a nível de descobertas científicas e de pensamentos.
Essa transformação começa com a mudança de concepção sobre o cosmo, que consolida-se com “Galileu e Descartes”, apesar de já ter sido introduzido bem antes com Copérnico. Antes o pensamento científico que imperava era o pensamento dos filósofos gregos, sobretudo Aristotélico. Na religião também havia, de uma certa forma, uma influência do pensamento grego; Santo Agostinho e Santo Tomas de Aquino, aprofunda suas teologias com forte base em Platão (Agostinho) e Aristóteles (Tomás). Percebe-se a existência de uma harmonia entre ciência e religião.
Com a nova visão do cosmo, a geometrização do espaço, a substituição do universo finito pelo infinito e mecânico, o Deus apresentado na Teologia Cristã tornou-se: “desnecessário, improvável, perdeu seu poder absoluto”. Com isso há todo um espaço para o surgimento do ateísmo.
Feuerbach expressa o seguinte: “O que é para a religião o Primeiro, é Deus, (...) o homem, portanto, deve ser estabelecido e pronunciado como o primeiro”. (A Essência do Cristianismo, pp 309-310).
Vê-se, portanto, o homem colocando-se como auto-suficiente e independente de uma força transcendental (Deus). Indo mais além, vários pensadores, com destaque para Freud, vão tentar demonstrar que Deus e religião nada mais é que criação psicológica de cada homem, o qual deve libertar-se disso para estar mais próximo da realidade como tal, ao invés, de viver subordinado a fantasias. Nietzsche por sua vez, vai ainda mais além e combate fortemente à religião, especialmente o Cristianismo; mostrando outros caminhos, afirmando a necessidade da criação de novos valores que fossem mais racionais, pois aquele no qual se embasava todos os valores morais, éticos e religiosos, o próprio homem já tinha destruído “tinha matado Deus”, nesse caso, o homem seria o próprio Deus, o super-homem. Nietzsche escreve: “Nunca houve uma religião que contivesse uma verdade”. (Humano demasiado humano §110). “Permaneceis fieis a terra e não creiais em quem lhes falar de esperanças supra terrenas”. (III, Prólogo, m.3).
Hoje, no entanto, após um século de toda esta crítica, percebe-se que esses pensadores não estavam tão certos, pois apesar de tudo, o fenômeno religioso continua acontecendo. Há uma tendência natural do ser humano em aderir ao transcendente, e conseqüentemente, a religião prevalece como que intrínseca ao homem. Porém é inegável que houve mudanças, sobretudo na pós-modernidade, onde os paradigmas se espalham os mais diversos possíveis. O homem continua religioso no sentido de acreditar em um “Deus”, numa força transcendental, mas não com uma alienação a um Deus determinista como antes, realidade esta que para "os críticos religiosos" é um desastre: usa-se Deus como objeto, à medida que necessita dele, “usa-se depois joga fora”, “é o Deus de Bolso”.
A religião por sua vez, reagiu e reage a essa crítica, mostrando as falhas desses pensadores e que apesar de parecer (argumentos) tudo muito bem elaborados e verdadeiros são grandes equívocos.
A Igreja insiste que a Fé e a razão caminham juntas uma servindo como sustentação para a outra, e que, de forma alguma, a ciência contradiz a fé, mas ao contrário, confirma. Sobre esta temática o Papa João Paulo II escreve claramente mostrando a grade relação existente entre “fé e razão” em sua Carta Encíclica “FIDES ET RATIO”.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

DEFENDER OU DESTRUIR A VIDA?

A Igreja (católica) do Brasil, assim como faz a cada ano, lançou a Campanha da Fraternidade, simultaneamente ao período quaresmal, tempo propício para refletir e repensar nossos gestos, pensamentos e atitudes quotidianos. Neste ano somos convidados a refletir e defender o que há de mais valioso e sagrado na existência: A VIDA. Porém, esse é um tema que está aberto a reflexões e ações em todo tempo.

Há quem diga que, nos dias de hoje, é desafiador “levantar a bandeira” em favor da vida. Mas existe realmente pessoas que são contra a vida?

No mais profundo do ser humano existe na verdade um grande desejo de defender e preservar a vida, a não ser em alguns casos anormais. Vemos, portanto, vários grupos e meios distintos defendendo a vida: Igrejas, movimentos, políticos, estudantes, professores, grupos de favelas, programas de rádio e televisão, sites na internet, uma unanimidade a favor da vida.

Se é assim, por que parece tão desafiador uma campanha em defesa da vida?

O maior problema, me parece, é que cada vez mais, a consciência humana já não consegue distinguir o que é bem e o que é mal. Toda pessoa sensata escolhe a vida, mas dizendo-se defensor da vida, às vezes se provoca muito mais morte. Por isso, para alguns analistas vivemos numa cultura de morte. Matar um feto ou uma criancinha que ainda não nasceu; matar um “velhinho” que já não serve mais, às vezes, só porque não tem mais a energia dos “novos” é visto como ato de amor.

Para defender a vida muitos são totalmente contra o uso e manipulação das células-tronco embrionárias, em defesa da mesma vida muitos são totalmente favoráveis. Semelhante a isso são as realidades do aborto, da eutanásia, do uso de preservativo, violências diversas, agressão ao meio ambiente. Há muita destruição da vida em nome da sua defesa. Vivemos em um momento crítico e decisivo em que a humanidade se vê diante da possibilidade real de auto destruição. O perigo é “em nome do progresso a humanidade se regredir a um estilo de vida de tempos que foram denominados de bárbaros”.

Cada pessoa, por conseguinte, sobretudo nós cristãos, neste momento da história, somos responsáveis e devemos agir em vista não de frear o progresso ou prender as pessoas à nossa forma de pensar, mas para evitar que o pior possa acontecer. O objetivo geral da Campanha da Fraternidade é muito claro: a Igreja e a sociedade devem defender e promover a vida humana, desde sua concepção até a sua morte natural, dom de Deus e co-responsabilidade de todos na busca da sua plenificação. Compromisso ético e de amor fraterno.

Finalmente, em todas as circunstâncias escolhe sempre o caminho da vida em Deus. E este se dar de forma mais plena dentro da Igreja. Sejamos Igreja de Cristo.