quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O que é Liturgia?

Meu trabalho pastoral durante o ano de 2010 foi especificamente na formação litúrgica, de paróquias da Diocese. Esta pergunta acima, foi muito marcante na aprendizagem junto às comunidades. Era um dos primeiros temas a ser refletido. Era um tema estudado na primeira etapa e revisado nas outras. Já pensou você tomar um curso de liturgia e terminar sem saber o que vem a ser liturgia? Se bem que essa pergunta, na realidade, não é tão simples de responder. Até padres e pessoas formadas em teologia, nem sempre tem segurança em responder o que é liturgia. Com a permissão do leitor, conto um pouco o caminho que fizemos para chegar ou entendimento básico, mas profundo da questão, entendimento este, fundamental para o estudo de qualquer tema especifico de liturgia.

Nas oito paróquias atendidas em 2010, a participação média ficou em torno de 40 pessoas por paróquia, portanto, as respostas que vos apresento foram colhidas de uma média de 320 pessoas. Vejamos as respostas mais comuns que as pessoas deram quando foram perguntadas: Para você o que é liturgia?: Liturgia é: A Palavra de Deus, as leituras da missa, leitura da Bíblia, as partes da missa, preparar a missa, a celebração da missa, celebrar a vida, celebrar a vida de Jesus,celebrar o mistério de Jesus, os cantos, celebração festiva, festa, Jesus Cristo, encontro de irmãos, comunicação com Deus, mistério. Estas foram as respostas mais comuns que os agentes e liders de comunidades expressaram. Na verdade todas elas são respostas válidas de alguma maneira. Depois dessa explanação mais livre eu começava a conduzi-los a uma resposta mais ampla e completa. E todos enfim concordavam que liturgia é a celebração do Mistério Pascal de Jesus Cristo. Nesta frase está o conceito básico e uma grande síntese de todas as possíveis respostas que se possa dar para definir liturgia. Mas dizer para “nosso povo” que liturgia é o Mistério Pascal de Jesus Cristo, não lhes acrescenta muita coisa. Fazíamos, então, um outro passo fundamental: o entendimento de cada termo contemplado nessa síntese e a sua compreensão global. Novamente a maiêutica socrática nos ajudava. É encantador perceber como as respostas vindas do povo eram de uma profundidade impressionante. É impossível aqui transcrever as colocações, compreensões e até mesmo contemplação do Mistério de Cristo que conseguíamos fazer. Tentarei explanar algumas das nossas conclusões. Celebrar é tornar célebre, impecável, grandioso, algo bem elevado, festivo, belo, sendo a celebração essa ação celebre, essa oração máxima, grandiosa, festiva. Mas na liturgia não celebramos qualquer coisa, celebramos algo que é mistério, e, mistério é infinito e impossível de ser conhecido e compreendido em sua totalidade, mas não significa ser algo inexistente, ou mesmo “uma mentira”, pelo contrário, o mistério tem um conteúdo e revela esse conteúdo para o ser humano. Diante do mistério se tem certeza que existe uma realidade, a qual se percebe, se sente e até há uma modificação na pessoa, tornando-a diferente, mas diante do mistério também se tem a certeza que não se consegue “ver” nem atingir tudo que há nele, ele é infinitamente maior do que aquilo que a pobre razão humana pode alcançar, nossa razão não é capaz de penetrar na sua totalidade, apesar de ao mesmo tempo ser tão presente e, por isso mesmo, é mistério.

Mas falando-se de liturgia, não celebramos qualquer mistério, e, sim, o Mistério Pascal de Jesus Cristo. Existe mistério maior que este? Como pode um homem que só fez o bem, ser tão maltratado, cuspido, xingada, morto de uma morte que só os piores bandidos da época morriam. E mais! Ele tinha todas as condições de reagir e com o poder que tinha derrotar a todos que o perseguiam. Mas Ele preferiu o silêncio, foi humilhado até as últimas consequências, humanamente falando foi um derrotado. É exatamente ai que está o seu poder e o seu mistério. Na sua humilhação ele destruiu o orgulho, destruiu a própria morte. Porque sua vitória foi de forma mais profunda, Ele não venceu os que lutavam diretamente contra Ele, sua vitória foi na raiz, Ele vence o mal e a morte. Porque Ele volta a viver, Ressuscita. E muito mais que isso, Cristo, agora, permanece em meio aos homens por toda eternidade, Si dá ao homem como alimento de Salvação. Agora o Cristo Ressuscitado ultrapassa os limites geográficos e humanos alcançando não apenas o povo de Israel, mas toda humanidade. E essa entrada de Cristo na vida humana tem um modo privilegiado de se dá: a Sagrada Liturgia.

Portanto, liturgia é a Celebração do Mistério Pascal de Jesus Cristo, ou seja, Celebramos a Vida de Jesus nos seus momentos mais misteriosos, seus momentos mais marcantes. Costumo juntar ao Mistério Pascal de Cristo a encarnação(nascimento) e a ascensão de Jesus. Pois bem, quem está no centro de toda liturgia é o Mistério de Cristo. Celebramos antes de tudo os seus mistérios; a eles se unem as nossas vidas, nossas vitórias, nossas tristezas... Mas é n’Ele que tudo ganha significado. De modo que, toda oração, todo ato e rito litúrgico é para que o mistério de Cristo seja contemplado. De modo ainda mais específico: o quê e como se canta na missa, como se proclama as leituras, a reflexão, gestos, a participação da assembleia, a organização do espaço da celebração tem como princípio primordial a experiência, o encontro com o Mistério celebrado: Jesus Cristo. Na verdade até as obras sociais da Igreja, se alimentam, se nutrem e ganham sentido na liturgia, no Mistério de Jesus Cristo, caso contrário, não terá diferença das obras sociais feitas pelo estado.

Ai está uma pequena parte da experiência a me confiada em dá formação litúrgica na Diocese. Espero poder dar continuidade aperfeiçoar e melhorar sempre mais, para que, em fim, o Mistério de Cristo seja sempre melhor conhecido e celebrado.