O evangelista Mateus traz a perícope citada acima dentro de uma seção de dez milagres, logo após, ter anunciado seu sermão na montanha de Cafarnaum, desde então o escritor sagrado vem destacando sempre o Cristo acompanhado de uma grande multidão: “Ao descer da montanha, seguiam-no multidões numerosas” (Mt 8,1). (Vendo Jesus que estava cercado de grandes multidões... (Mt 8,18). É exatamente no meio desta multidão de seguidores, depois da narrativa de alguns milagres, que dois personagens ganham destaque: o primeiro, diz que vai seguir o Mestre onde quer que vá (“Mestre eu te seguirei para onde quer que vás” – Mt 8, 19); O segundo pede para antes enterrar o pai (“Senhor, permite-me ir primeiro enterrar meu pai” – Mt 8,21). Aos dois Jesus dá uma resposta enigmática. Ao primeiro, diz que até os animais tem mais conforto do que Ele: “As raposas têm tocas e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” -Mt 8,20; ao outro, não dá-lhe permissão alguma: “segue-me e deixa que os mortos enterrem seus morto”- Mt 8,22.
Como um homem tão pobre e tão exigente atrai a tantas pessoas? É exatamente ai que estão vários dos motivos da sua “atração”. Este, não é um homem qualquer. Ele é o Mestre dos mestres, (com lhe tratou o escriba) “chegou-se a ele um escriba e disse: ‘Mestre eu te seguirei para onde quer que vás - Mt 8, 19’”; o Senhor de todos, principalmente dos seus seguidores (como lhe tratou seu discípulo) “Outro dos discípulos lhe disse: ‘Senhor, permite-me ir primeiro enterrar meu pai’”. Não é um Deus imaginário. É o Filho do Homem, homem concreto, mas divino, (como se autodenomina Cristo) “Jesus respondeu: ‘As raposas têm tocas e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça’”. Por isso, segui-lo vale a pena. Não importa o que fica para traz, é muito pouco diante da sua escolha. Você vai seguir de modo mais concreto possível, aquele que é a razão da sua existência. É assim que Jesus se revela a cada ação e nesta não foi diferente. Todos são convocados a reconstruírem seu modo de viver e ser, pois agora conhecem de modo bem palpável, a razão de todo existir, pois ele não se esconde, não tem nem onde morar, mas pode estar sempre com cada um. Segui-Lo é tornar-se salvo, livre, homem novo, “Igreja nova”.
Uma multidão seguia Jesus, talvez mais pelos seus milagres; Jesus deixa claro que segui-Lo é muito mais exigente que simplesmente querer, receber e ver seus milagres. Ele nos chama, mas não nos engana. Quem quiser segui-Lo terá que passar pelas dificuldades próprias da mentalidade evangélica. O seguimento de Cristo nos tira das nossas raízes e nos desestrutura. Somos obrigados(as) a renunciar à nossa existência pacata, medíocre e acomodada. Para seguir a Jesus é preciso, também, não ter casa, não ter abrigo nem mordomia, isto é, não ter raízes em lugar nenhum.
Portanto, vemos também a preocupação de São Mateus em ressaltar sua Eclesiologia, A Igreja é convidada a um seguimento radical ao Cristo, Pedra fundante, capaz de mover todos a Ele, capaz de retribuir e ultrapassar qualquer valor cultural e humano que possa nos acompanhar como algo grandemente valioso. O Cristo vale mais que tudo, em Mt 10, 37 Ele diz: “Aquele que ama pai e mãe mais do que a mim, não é digno de mim”. Quem quiser seguir a Cristo, terá sim sua recompensa, não em plena glória aqui na terra, mas com a cruz. Com estas palavras de Jesus termino minha reflexão: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Pois aquele que quiser salvar sua vida, a perderá, mas o que perder sua vida por causa de mim, a encontrará.
Em suma, a maior promessa de Cristo é um antagonismo: perder a vida, mas ao mesmo tempo ganhar uma nova. Sobretudo por isso, tantos o seguiram e o seguem, não importando as conseqüências.