Para entender ou aproximar-se do pensamento de Lutero, faz-se necessário adentrar no contexto de sua época e de si mesmo. Á luz da realidade de seu tempo podemos dizer que seu ambiente eclesiástico era sadio e ao mesmo tempo doente, isto é, havia muitos elementos enriquecedores e positivos dentro da Igreja, como também elementos negativos, acarretando sérias dificuldades à própria Instituição.
Lutero reage a essa estrutura negativa, mas é importante ressaltar, que ele não foi o único, temos São Francisco de Assis e Santa Tereza D`Avila, seus contemporâneos. Estes últimos também romperam com as estruturas da época, no entanto, a partir de uma postura coletiva, gerando dentro da própria Igreja um novo modo de ser, sem perder a unidade, tornando-se assim, apesar de encontrar grandes resistências, um grande bem posterior à toda Igreja. Lutero faz uma ruptura muito mais consigo mesmo; sua pergunta fundamental é: Como serei salvo? Ora, é essa a matriz de todo o pensamento luterano. Como o homem será salvo? Como isso vai se dá em mim?
Proponho-me a partir desse momento buscar um entendimento do pensamento deste reformista a cerca do pecado. Lutero vai apresentar sempre um negativismo em relação ao homem pecador, um pessimismo antropológico; o pecado segundo ele é um ato histórico que reduziu a pessoa humana a um estado de corrupção radical e contradição consigo mesmo; o pecado aniquilou a bondade da natureza; o pecado constitui a consciência do homem. O ser humano é “criatura de Deus constituída de corpo e alma viva, feito à imagem e semelhança de Deus, sem pecado, para procriar e dominar sem nunca morrer”. ( Lutero, A Refutação do Parecer de Látamo. 1992, p. 195.) Mas algo muda! Após a queda de Adão, a criatura ficou sujeita ao poder do diabo, ao pecado e à morte. São as conseqüências de sua queda, de sua atividade contra Deus. Essa queda causou um rompimento na ligação entre os humanos e Deus.
Para Lutero a situação fundamental do homem é indigência, ruptura, cisão, desintegração, e alienação consigo mesmo, com os outros e com Deus. O homem é iludido pelo pecado que ele pode se autorrealizar. O pecado é: aversão a Deus e conversão ao homem. O problema é achar-se valioso diante de Deus sem o ser. O homem não tem valor nenhum, pois pelo pecado ele está inclinado para o mal, só pode fazer o mal. O homem só pode pecar. Ninguém é sem pecado. O religioso chega a dizer que até as boas obras terrenas aos olhos de Deus podem ser mal. Para ele a primeira, suprema e mais nobre boa obra é a fé em Cristo.
O reformador falou de pecado capital, pecado radical, pecado original, pecado pessoal; no intuito de mostrar que o pecado está em cada pessoa, não há pecados maiores ou menores, os atos pecaminosos são apenas furtos do pecado: “teu nascimento, tua natureza, e toda a tua essência é pecado, o ser humano está corrompido inteiramente até o fundamento pelo pecado original”. (Lutero, Catecismo Maior. 1997, p. 555)
É graças ao amor de Deus por nós, e só por ele, que podemos ser salvos, Ele oferece o perdão e nos aceita como justos através de Cristo. Resta-nos aceitar o perdão oferecido por Deus. Lutero vai falar de uma luta constante do homem: o “velho Adão” e o “novo Adão”, há algo fundamental nesta luta: o Batismo. A pessoa batizada vive, a um só tempo, na esfera de Adão e na esfera de Cristo. O ser humano é assim, justo e pecador. Justo quando está em Cristo, dele se reveste e confia na sua graça.
Finalmente, segundo Martinho Lutero é Deus em seu infinito amor que envia seu Filho Jesus Cristo para salvar o homem caído em pecado. Resta ao homem guardar os mandamentos de Deus e fazer penitência como ato de arrependimento e mudança de vida, buscando ansiosamente a misericórdia e o perdão de Deus. Sobretudo para nós católicos razoavelmente esclarecidos, torna-se difícil a compreensão de vários temas desenvolvidos por este personagem, o mesmo parece contradizer-se em seus próprios argumentos, todavia, a tentativa aqui foi de dar uma fundamentação básica para o entendimento da concepção de pecado desenvolvida por ele.
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