sábado, 13 de março de 2010

LITURGIA: DAS RUBRICAS AO APROFUNDAMENTO

A participação em um curso litúrgico-musical promovido pela CNBB, Regional Nordeste 3, levou-me a rever meus conceitos sobre liturgia। O curso possibilitou-me compreender que na liturgia, há um conteúdo que ultrapassa as próprias normas, conteúdo inclusive que dá sentido às normas.

Para alguns, assim como foi para mim por um bom tempo, dispor uma atenção especial à liturgia, não passaria de um apego insignificante a detalhes, inclusive controversos, dos nossos atos celebrativos। Esta postura evidencia um desconhecimento da sagrada liturgia da Igreja, de modo mais aprofundado, pois os ritos e os detalhes não são impostos, mas fluem numa harmonia extraordinária com o mistério que se celebra. Não são os detalhes, o essencial para que o Mistério seja celebrado, mas é da celebração Dele que emerge os detalhes, embelezando-a e enriquecendo-a ainda mais.

A Sacrosanctum Concilium n° 10 define: “A liturgia é o cume e a fonte de toda ação da Igreja”। Aqui está a definição por excelência. Assimilar esta definição implica, antes de mais, guiar toda ação cristã a partir da liturgia, caso contrario, nossas ações serão deficientes. Até o trabalho social com os pobres, só terá sentido verdadeiro se nascido da liturgia.

Em sua raiz a palavra é grega – leitourgía – seu significado é complexo। Teria duas raízes: “leit = povo, urgia = obra - serviço” – carregando ainda outras variantes. Podemos dizer que significa: serviço do povo, povo que trabalha, serve, age. No campo da religião do Povo de Deus: é a ação de Deus servindo e santificando seu povo, fazendo-o passar da morte para a vida; é a ação do povo, servindo e glorificando a Deus em união com Jesus, no Espírito Santo. Assim essa palavra vai aparecendo na Bíblia em vários contextos diferentes, mas nunca distante de um contexto de religiosidade.

Uma das traduções do Vaticano II é: ação simbólica cristã। Todavia, a definição mais expressiva e sintética é: liturgia é a celebração do Mistério Pascal de Cristo. Uma ótima definição, mas que exige uma compreensão dela mesma. Neste sentido, celebração é: ação ritual em clima festivo, feita com palavras e sinais sensíveis. Mas não se trata de qualquer celebração, na liturgia celebramos o Mistério da Pascal de Cristo, ou seja, fazemos memória – revivemos – o Mistério Pascal da Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão de Cristo. Uma liturgia cristã que não aponte para tal Mistério não é liturgia.

Com essa pequena tentativa de compreensão de liturgia já é possível perceber que ela é a base de nossa fé। Sem liturgia não existe cristão, não conhecemos nem encontramos verdadeiramente o Cristo. Por mais que o Cristo esteja em tantos outros lugares, é na liturgia que o encontraremos de fato e receberemos a graça para estar com ele onde quer que estejamos. Foi a partir desta compreensão que a liturgia deixou de ser uma dimensão secundária, para assumir uma importância prioritária na minha postura como cristão e como seminarista e, como padre futuramente. O que seria sair das rubricas para o aprofundamento? As rubricas, por minhas palavras, são: todas as normas, regas, notas e orientações concretas e práticas de como devem agir todos que estão celebrando. O Missal Romano, por exemplo, principal e mais importante livro litúrgico da Igreja Católica Romana, trás inúmeras rubricas: são geralmente letras em fontes menores e de cor vermelha que orientam como o padre e a assembléia devem fazer (as rubricas não são pronunciadas, são apenas para orientar).

Apesar de essas rubricas serem essenciais há algo ainda mais importante: entender o porque delas. O que dá sentido a todos os nossos gestos é a própria celebração, a vivência, o encontro com o Mistério, com o Cristo. De nada vele seguir todas as rubricas, a ponto de ficar preso somente a elas sem entender e viver verdadeiramente o Mistério celebrado. Caso isso aconteça, a celebração tornar-se-á vazia e não levará as pessoas ao encontro com Deus. Por outro lado, quando as pessoas deixam-se serem arrebatadas pelo Mistério, celebrando e vivendo de fato o momento, as rubricas irão fluírem naturalmente e mesmo que uma ou outra deixe de ser seguida, a celebração não perderá o seu sentido e as pessoas encontrar-se-ão com Deus.

BBB 10 A VERGONHA

Que me perdoem os ávidos telespectadores do Big Brother Brasil (BBB), produzido e organizado pela nossa distinta Rede Globo, mas conseguimos chegar ao fundo do poço. A décima (está indo longe) edição do BBB é uma síntese do que há de pior na TV brasileira. Chega a ser difícil encontrar as palavras adequadas para qualificar tamanho atentado à nossa modesta inteligência.

Dizem que Roma, um dos maiores impérios que o mundo conheceu, teve seu fim marcado pela depravação dos valores morais do seu povo, principalmente pela banalização do sexo. O BBB 10 é a pura e suprema banalização do sexo. Impossível assistir ver este programa ao lado dos filhos. Gays, lésbicas, heteros... todos na mesma casa, a casa dos “heróis”, como são chamados por Pedro Bial. Não tenho nada contra gays, acho que cada um faz da vida o que quer, mas sou contra safadeza ao vivo na TV, seja entre homossexuais ou heterosexuais. O BBB 10 é a realidade em busca do IBOPE.

Veja como Pedro Bial tratou os participantes do BBB 10. Ele prometeu um “zoológico humano divertido” . Não sei se será divertido, mas parece bem variado na sua mistura de clichês e figuras típicas.
Se entendi corretamente as apresentações, são 15 os “animais” do “zoológico”: o judeu tarado, o gay afeminado, a dentista gostosa, o negro com suingue, a nerd tímida, a gostosa com bundão, a “não sou piranha mas não sou santa”, o modelo Mr. Maringá, a lésbica convicta, a DJ intelectual, o carioca marrento, o maquiador drag-queen e a PM que gosta de apanhar (essa é para acabar!!!).

Pergunto-me, por exemplo, como um jornalista, documentarista e escritor como Pedro Bial que, faça-se justiça, cobriu a Queda do Muro de Berlim, se submete a ser apresentador de um programa desse nível. Em um e-mail que recebi há pouco tempo, Bial escreve maravilhosamente bem sobre a perda do humorista Bussunda referindo-se à pena de se morrer tão cedo. Eu gostaria de perguntar se ele não pensa que esse programa é a morte da cultura, de valores e princípios, da moral, da ética e da dignidade.

Outro dia, durante o intervalo de uma programação da Globo, um outro repórter acéfalo do BBB disse que, para ganhar o prêmio de um milhão e meio de reais, um Big Brother tem um caminho árduo pela frente, chamando-os de heróis. Caminho árduo? Heróis? São esses nossos exemplos de heróis?

Caminho árduo para mim é aquele percorrido por milhões de brasileiros, profissionais da saúde, professores da rede pública (aliás, todos os professores), carteiros, lixeiros e tantos outros trabalhadores incansáveis que, diariamente, passam horas exercendo suas funções com dedicação, competência e amor e quase sempre são mal remunerados..
Heróis são milhares de brasileiros que sequer tem um prato de comida por dia e um colchão decente para dormir, e conseguem sobreviver a isso todo santo dia.
Heróis são crianças e adultos que lutam contra doenças complicadíssimas porque não tiveram chance de ter uma vida mais saudável e digna.
Heróis são inúmeras pessoas, entidades sociais e beneficentes, ONGs, voluntários, igrejas e hospitais que se dedicam ao cuidado de carentes, doentes e necessitados (vamos lembrar de nossa eterna heroína Zilda Arns).
Heróis são aqueles que, apesar de ganharem um salário mínimo, pagam suas contas, restando apenas dezesseis reais para alimentação, como mostrado em outra reportagem apresentada meses atrás pela própria Rede Globo.

O Big Brother Brasil não é um programa cultural, nem educativo, não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores, nem aos participantes, e não há qualquer outro estímulo como, por exemplo, o incentivo ao esporte, à música, à criatividade ou ao ensino de conceitos como valor, ética, trabalho e moral. São apenas pessoas que se prestam a comer, beber, tomar sol, fofocar, dormir e agir estupidamente para que, ao final do programa, o “escolhido” receba um milhão e meio de reais. E ai vem algum psicólogo de vanguarda e me diz que o BBB ajuda a "entender o comportamento humano". Ah, tenha dó!!!

Veja o que está por de tra$$$$$$$$$$$$$$$$ do BBB: José Neumani da Rádio Jovem Pan, fez um cálculo de que se vinte e nove milhões de pessoas ligarem a cada paredão, com o custo da ligação a trinta centavos, a Rede Globo e a Telefônica arrecadam oito milhões e setecentos mil reais. Eu vou repetir: oito milhões e setecentos mil reais a cada paredão.
Já imaginaram quanto poderia ser feito com essa quantia se fosse dedicada a programas de inclusão social, moradia, alimentação, ensino e saúde de muitos brasileiros?
(Poderia ser feito mais de 520 casas populares; ou comprar mais de 5.000 computadores )
Essas palavras não são de revolta ou protesto, mas de vergonha e indignação, por ver tamanha aberração ter milhões de telespectadores.

Em vez de assistir ao BBB, que tal ler um livro, um artigo de Jabor, um poema de Mário Quintana ou de Neruda ou qualquer outra coisa..., ir ao cinema..., estudar... , ouvir boa música..., cuidar das flores e jardins... , telefonar para um amigo... , visitar os avós... , pescar..., brincar com as crianças... , namorar... ou simplesmente dormir. Assistir ao BBB é ajudar a Globo a ganhar rios de dinheiro e destruir o que ainda resta dos valores sobre os quais foi construído nossa sociedade.


Autor Desconhecido